A Embrapa Pantanal (MS) e a Embrapa Gado de Corte (MS), em parceria com a Associação Brasileira de Produtores Orgânicos (ABPO), avaliaram a dinâmica do desenvolvimento produtivo de bovinos criados em sistema orgânico no Pantanal Sul-Mato-Grossense.
Em apenas três anos, de 2013 a 2016, foi registrado aumento acima de 200% no número de animais e na quantidade de carne proveniente dessa cadeia. O número de produtores e abates cresceu mais de 100% no mesmo período. O crescimento exponencial também foi observado entre junho de 2020 e maio de 2021.
Segundo os autores do estudo, todas as regiões do Pantanal têm vocação para a produção de carne orgânica. Boas práticas de produção, certificadas, com atendimento aos requisitos que vão do tipo de alimento a seguir ao cumprimento de legislação específica, direito ao uso de selos de carne orgânica e sustentável.
A pecuária é a principal atividade econômica da região pantaneira e está sendo desenvolvida de maneira estendida há mais de 200 anos, com uso racional dos recursos naturais, principalmente das forrageiras nativas. “A produção de carne orgânica e sustentável pode ser uma opção capaz de contribuir para que se mantenham as condições de conservação ambiental do bioma”, afirma o pesquisador da Embrapa Urbano Abreu, líder das atividades sobre a temática.
A produção na região ainda atende à demanda do consumidor por produtos obtidos por meio de sistemas de produção ambientalmente corretos e socialmente justos. Isso agrega valor ao produto, além de oferecer uma melhor qualidade ao consumidor. Abreu lembra que uma parcela da população mundial se preocupa com a utilização de produtos químicos na produção animal. “Os processos de pecuária orgânica, preservam a qualidade que a saúde humana, os direitos dos trabalhadores e o bem-estar animal”, destaca que há muitas oportunidades no mercado de orgânicos. “Em especial, para os certificados premium e gourmet de vínculo com a origem”, completa, ressaltando que os produtos também ajudam a valorizar o bioma.
Propriedades certificadas
Atualmente, de acordo com o Gerente-Executivo da ABPO, Silvio Balduíno, tem fazendas certificadas em produção de carne orgânica e sustentável em todas as regiões pantaneiras do Mato Grosso do Sul (MS). As marcas Korin, Wessel, Malunga, Farmi, Taurinos e Bio Carnes já comercializam o produto nos mercados interno e externo. Há seis frigoríficos credenciados para fazer o abate desses animais: Boibrás Ind. Com. Carnes e Sub Produtos Ltda (São Gabriel do Oeste), Frima Frigorífico Marinho Ltda (Corumbá), JBS (Campo Grande), Frigo Balbinos (Sidrolândia), Frizelo Frigoríficos Ltda (Terenos) e Naturafrig Alimentos Ltda (Rochedo).
Pesquisas em Pecuária Orgânica e Sustentável
A produção de carne orgânica no Pantanal iniciou-se com um protocolo de produção da ABPO, no qual foram incorporados os conceitos de qualidade e sustentabilidade nas bases sociais, ambientais e econômicas. Os pesquisadores realizaram estudos de implantação e desenvolvimento de sistemas orgânicos no Pantanal, custos e ajustes dos pontos que apresentam necessidade de pesquisa analítica dos sistemas de produção. Quem organiza e decide sobre os sistemas são os pantaneiros.
O estudo avaliou a quantidade de carne orgânica produzida, número de produtores, reses e lotes abatidos em Mato Grosso do Sul (2013-2016). A análise mostrou a evolução da cadeia produtiva da carne orgânica, oportunidades e demandas, além da taxa de crescimento. Os números em apenas três anos mostram que o interesse do consumidor por esse tipo de carne diferenciada é crescente.
Modo de produção diferenciado
O pesquisador Urbano explica que a superação dos desafios da produção diferenciada de alimentos requer abordagens tradicionais, com adoção de sistemas, que consideram o funcionamento específico e integração dos elementos diferentes da cadeia alimentar. “As dificuldades próprias do Pantanal como logística, a falta de estradas e de estradas, o isolamento geográfico, as dificuldades em desenvolver a agricultura para alimentação dos animais, o sistema de produção das cheias e secas, entre outras variantes, são desafios naturais”.
No sistema orgânico, não se pode utilizar principalmente a uréia para melhor aproveitamento da forrageira (capim seco). “Além de soja só pode ser usada, de cultivares transgênicas, como milho e outras determinadas. Os produtos para formulação das rações de engorda não transgênicas são atualmente escassos no mercado”, completa o pesquisador.
Legislação
Embora a produção pecuária no Pantanal seja próxima a um sistema orgânico de produção, para seu sistema de tratamento são procedimentos determinados e procedimentos básicos. A legislação da produção orgânica está regulamentada na Lei nº 10831/03, conhecida como a “Lei Orgânicos”, no 6.323, de 27 de dezembro de 2007, bem como na Instrução Normativa Decreto nº 64/2008 dos pela IN 6.323/2011 , considerada como uma das principais regulamentações (Brasil, 2008 e 2011), uma vez que visa orientar os processos e as práticas de manejo da produção animal e vegetal brasileira.
O pesquisador ressalta que todas as fazendas são treinadas pelo responsável técnico (RT) – zootecnista ou engenheiro. São dois tipos de certificadoras: a primeira direcionada para a rastreabilidade dos animais, realizada do nascimento dos bezerros ao abate, ligada ao SISBOV do Ministério da Agricultura; e uma segunda relacionada ao ajuste do sistema de produção (orgânico ou sustentável).
Em 2018, o Governo do Estado de Grosso do Sul lançou o Programa Carne Sustentável e Orgânica do Pantanal.
A documentação da Carne Sustentável da ABPO segue o protocolo registrado junto à CNA. O Subprograma foi criado em conjunto com a ABPO com o objetivo de incentivar a pecuária bovina de baixo impacto ambiental no Pantanal.
Em paralelo, as normas do programa da carne orgânica seguem o protocolo nacional de propriedades que se enquadram na lei federal do Sistema Brasileiro de Conformidade Orgânica.
Texto e fotos: Raquel Brunelli/Embrapa Pantanal